Achados Arqueológicos da Mesquita Medieval de Lisboa

DECLARAÇÃO

  1. Os trabalhos arqueológicos que de há muito vêm decorrendo na Sé Catedral de Lisboa e que se intensificaram há cerca de três anos vieram revelar vários e importantes vestígios materiais que comprovam o que já se supunha, embora sem que até então houvesse prova histórica inequívoca: o templo medieval de Santa Maria Maior foi edificado no local e sobre o edifício da antiga mesquita de al-Ushbuna, após a conquista da cidade por D. Afonso Henriques, em 1147.
  2. A dimensão, a clareza, a relevância e a originalidade desses testemunhos materiais constituem uma marca ímpar no nosso país. Apesar da longa e profunda presença islâmica no território que veio a constituir Portugal, entre o início do século VIII e meados do século XIII, os sítios arqueológicos e os vestígios monumentais dessa presença são escassos entre nós.
  3. As estruturas reveladas pelas escavações arqueológicas na Sé de Lisboa são parte indissociável do nosso património histórico e cultural. Uma coerente e consequente defesa do património nacional impõe o estudo rigoroso e aprofundado destes “documentos-monumentos”, estudo esse levado a cabo por equipas multidisciplinares integrando arqueólogos e historiadores especializados. Esta é uma oportunidade para iluminar, esclarecer e aumentar o conhecimento sobre uma componente civilizacional que constitui uma das matrizes essenciais da nossa história na Idade Média.
  4. Além da investigação e do estudo especializado, os elementos arqueológicos da mesquita medieval agora vindos a público permitem pôr em evidência uma parte significativa, embora muitas vezes menosprezada, da nossa herança cultural. Nesse sentido, a percepção da sua existência por parte de sectores mais amplos da população de Lisboa e do conjunto do país permitirá também uma restituição, mais diversificada e completa, da memória colectiva dos portugueses.
  5. Pelo conjunto de razões anteriormente enunciadas, os Corpos Dirigentes da Sociedade Portuguesa de Estudos Medievais (SPEM), composta por mais de uma centena de medievalistas de várias áreas de especialidade (História, Arqueologia, História da Arte, Literatura…), integrando professores e investigadores de todas as Universidades do país e de vários centros de investigação científica, expressa a sua posição sobre a absoluta necessidade de estudar, de preservar e de disponibilizar a fruição cultural do património monumental da Sé de Lisboa, nos seus vários estratos temporais e civilizacionais, incluindo os relativos ao período islâmico.
  6. A SPEM apela a todas as entidades envolvidas – Ministério da Cultura, Direcção-Geral do Património e Patriarcado de Lisboa – para que, através do diálogo e de uma ponderação baseada em critérios de salvaguarda e de valorização patrimonial, seja possível encontrar a melhor solução para conservar, preservar e expor os importantes achados arqueológicos da mesquita medieval de Lisboa. A SPEM faz questão de afirmar a sua esperança e a sua confiança em que assim será.

Lisboa, 5 de Outubro de 2020

Maria Helena Coelho – Presidente do Conselho Directivo
Bernardo Vasconcelos e Sousa – Vice-Presidente do Conselho Directivo
Hermínia Vasconcelos Vilar – Secretária do Conselho Directivo
Hermenegildo Fernandes – Vice-Secretário do Conselho Directivo
António Rebelo – Tesoureiro do Conselho Directivo
Maria João Branco – 1º Vogal do Conselho Directivo
Armando Norte – 2º Vogal do Conselho Directivo
Armando Carvalho Homem – Presidente do Conselho Fiscal
Mário Farelo – Vogal do Conselho Fiscal
Paula Pinto – Vice-Presidente da mesa da Assembleia Geral
Saul Gomes – Secretário da Mesa da Assembleia Geral